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Subject: »Assuntos Políticos
a coisa andou quente por saqui, é?
perdi essa!
e o pessoal zoando dizendo que o Eurico Miranda ligou pro Temer dizendo que "sabe como é ser sempre no máximo vice e se sentir rebaixado" haha
mas passei por aqui para deixar como sugestão de leitura o vigoroso texto de Christophe Bonneuil, publicado na Le Monde Diplomatique desse mês:
"TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS?"
"A exploração dos recursos fósseis provocou o nascimento de uma nova era geológica na Terra – uma proeza levada a cabo pelas nações industrializadas e por suas elites, as quais basearam sua supremacia em trocas ecológicas desiguais"
O texto publicado traz uma série de referências, que também merecem ser pesquisadas.
Segue o texto:
edit: os números de 1 a 18 que estão no texto são as referências. se alguém quiser saber qual referência é alguma delas ou todas, é só mandar skmail que envio, certo?
(edited)
perdi essa!
e o pessoal zoando dizendo que o Eurico Miranda ligou pro Temer dizendo que "sabe como é ser sempre no máximo vice e se sentir rebaixado" haha
mas passei por aqui para deixar como sugestão de leitura o vigoroso texto de Christophe Bonneuil, publicado na Le Monde Diplomatique desse mês:
"TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS?"
"A exploração dos recursos fósseis provocou o nascimento de uma nova era geológica na Terra – uma proeza levada a cabo pelas nações industrializadas e por suas elites, as quais basearam sua supremacia em trocas ecológicas desiguais"
O texto publicado traz uma série de referências, que também merecem ser pesquisadas.
Segue o texto:
edit: os números de 1 a 18 que estão no texto são as referências. se alguém quiser saber qual referência é alguma delas ou todas, é só mandar skmail que envio, certo?
(edited)
Somos todos responsáveis??
Antropoceno: o termo designa uma nova era na idade da Terra, aberta por uma humanidade que se tornou força telúrica.1 O ponto de partida dessa nova idade geo-histórica permanece controverso: a conquista etnocida da América? O nascimento do capitalismo industrial, baseado em combustíveis fósseis? A bomba atômica e a “grande aceleração” a partir de 1945? Mas há pelo menos um fato sobre o qual os cientistas concordam: muito mais que uma crise ambiental, vivemos uma revolução geológica, que só teve precedentes – a quinta extinção em massa, há 65 milhões de anos, ou o optimum climático do Mioceno, há 15 milhões de anos – em tempos anteriores ao aparecimento da humanidade. Daí uma situação radicalmente nova: a humanidade deverá, nas próximas décadas, enfrentar estados do sistema Terra com os quais nunca foi confrontada.
O Antropoceno também marca o fracasso de uma das promessas da modernidade, que pretendia separar-se da história da natureza, libertar o destino humano de qualquer determinismo natural. A esse respeito, os distúrbios causados à Terra representam uma tempestade em nossa vida. Eles remetem à realidade dos milhares de laços de pertencimento e retroações que ligam nossas sociedades aos processos complexos de um planeta que não é nem estável, nem externo a nós, nem infinito.2 Agredindo e jogando na estrada dezenas de milhões de refugiados (22 milhões hoje, 250 milhões anunciados pelas Nações Unidas em 2050), alimentando injustiças e tensões geopolíticas,3 as perturbações climáticas dificultam qualquer perspectiva de um mundo mais justo e solidário, de uma vida melhor para grande parte da humanidade. Desse modo, as frágeis conquistas da democracia e dos direitos humanos poderiam ser aniquiladas.
LÓGICA DE ACUMULAÇÃO
Afinal, quem é esse anthropos que originou o Antropoceno, verdadeiro descarrilamento da trajetória geológica da Terra? Uma “espécie humana” indiferenciada, unificada pela biologia e o carbono, portanto uniformemente responsável pela crise? Afirmar isso seria apagar a extrema diferença dos impactos, do poder e das responsabilidades entre povos, classes, gêneros. Houve vítimas e dissidentes da “antropocenização” da Terra, e talvez seja com eles que devamos aprender.
Na verdade, até recentemente o Antropoceno era um Ocidentaloceno! Em 1900, a América do Norte e a Europa ocidental haviam emitido mais de quatro quintos dos gases do efeito estufa desde 1750. A população humana cresceu dez vezes em três séculos, mas imagine a disparidade dos impactos entre os diferentes grupos humanos! Os povos de caçadores-coletores hoje ameaçados de desaparecer praticamente não podem ser considerados responsáveis por essa transformação. Um norte-americano abastado emite em sua vida mil vezes mais gases do efeito estufa que um africano pobre.4
Enquanto a população decuplicou, o capital centuplicou. Apesar das guerras destrutivas, ele cresceu 134 vezes entre 1700 e 2008.5 Não é essa lógica de acumulação que tensionou toda a dinâmica de transformação da Terra? Desse modo, mais justo seria chamar o Antropoceno de Capitaloceno. Essa é, aliás, a tese das recentes obras do sociólogo Jason Moore e do historiador Andreas Malm.6
Em dois séculos, um modelo de desenvolvimento industrial baseado em recursos fósseis conseguiu, ao mesmo tempo, desviar a trajetória geológica de nosso planeta e acentuar as desigualdades. Os 20% mais pobres detinham 4,7% da renda mundial em 1820, mas apenas 2,2% em 1992.7 Existe uma ligação entre a história das desigualdades e a história da degradação ambiental global do Antropoceno? Não, respondem os defensores do “capitalismo verde”, que retomam o velho discurso do “todos ganham” na relação entre mercado, crescimento, igualdade social e meio ambiente. No entanto, muitos trabalhos recentes, fazendo o cruzamento entre a história e as ciências do sistema Terra, evidenciam uma fonte comum para a dominação econômica e social, a injustiça ambiental e os desequilíbrios ambientais, que agora adquiriram amplitude geológica.
Embora qualquer atividade humana transforme o ambiente, os impactos são desigualmente distribuídos. Apenas noventa empresas são responsáveis por mais de 63% das emissões globais de gases do efeito estufa desde 1850.8 As nações que emitem mais são historicamente os países do “centro”, aqueles que dominam a economia-mundo (ver mapa). Primeiro foi o Reino Unido, que na era vitoriana, no século XIX, produzia metade do CO2 total e colonizava o mundo. Em seguida, em meados do século XX, foram os Estados Unidos, em concorrência frontal com os países sob influência soviética, cujo sistema não era menos destrutivo. Cada vez mais é a China, que hoje emite mais gases do efeito estufa que os Estados Unidos e a Europa juntos. O Império do Meio está em uma competição econômica com os norte-americanos que passa, a curto prazo, por uma corrida pelos recursos fósseis e, a médio prazo, pelo digital, as finanças e as tecnologias “verdes”. Diante dessa realidade histórica, podemos limitar os desequilíbrios globais sem questionar essa corrida pelo poder econômico e militar?
Mais profundamente, a conquista da hegemonia econômica pelos Estados-nação do centro9 permitiu a supremacia de sua elite capitalista, além da compra da paz social interna, graças à entrada das classes dominadas na sociedade de consumo. Mas isso se realizou à custa do endividamento ecológico, ou seja, de uma troca ecológica desigual com as outras regiões do mundo. Enquanto o conceito marxista de “comércio desigual” designa uma deterioração dos termos de troca entre periferia e centro, medida em quantidade de trabalho, entende-se por “troca ecológica desigual” a assimetria criada quando territórios periféricos ou dominados do sistema econômico global exportam produtos de alto valor de uso ecológico e recebem bens de menor valor, ou até mesmo geradores de danos (resíduos, gases do efeito estufa). Esse valor ecológico pode ser medido em hectares necessários para a produção de bens e serviços, por meio do indicador denominado “pegada ecológica”,10 em quantidade de energia de alta qualidade ou de matéria (biomassa, minerais, água etc.) incorporada nas trocas internacionais e ainda em resíduos e danos gerados e desigualmente distribuídos.
Esse modo de análise das trocas econômicas mundiais trouxe nos últimos anos uma nova perspectiva sobre o metabolismo de nossas sociedades e sobre a sucessão histórica tanto de “ecologias-mundo” (Jason Moore) como de “economias-mundo”, conforme a definição do historiador Fernand Braudel. Cada uma delas se caracteriza, de acordo com o período, por determinada organização (assimétrica) dos fluxos de matéria, energia e benefícios ou danos ambientais.
A FOME ENERGÉTICA DOS “TRINTA GLORIOSOS”
O historiador Kenneth Pomeranz mostrou o papel da troca ecológica desigual na entrada do Reino Unido na era industrial.11 A conquista da América e o controle do comércio triangular permitiu uma acumulação primitiva europeia; acumulação aproveitada principalmente pelos britânicos no século XVIII, graças à sua superioridade naval. Isso lhes deu acesso aos recursos do resto do mundo, indispensáveis para seu desenvolvimento industrial: mão de obra escrava para cultivar açúcar (4% do aporte energético de sua população em 1800), algodão para as manufaturas, lã, madeira, guano, trigo e carne. Em meados do século XIX, os hectares da periferia do império equivaliam a muito mais do que a superfície agrícola útil britânica. O câmbio era desigual, visto que, em 1850, trocando mil libras de têxteis fabricados em Manchester contra mil libras de algodão cru americano, o Reino Unido ganhava 46% em termos de trabalho incorporados (comércio desigual) e 6.000% em termos de hectares incorporados (troca ecologicamente desigual).12 Assim, ele liberava seu espaço doméstico de uma carga ambiental, e essa apropriação dos braços e dos ecossistemas da periferia tornou possível sua entrada na economia industrial.
Da mesma forma, no século XX, o forte crescimento dos chamados “Trinta Gloriosos Anos” do pós-guerra caracterizou-se por sua gula energética e sua pegada de carbono. Enquanto na primeira metade do século XX bastou um aumento de 1,7% por ano de consumo de energia fóssil para um crescimento mundial de 2,13% ao ano, entre 1945 e 1973 foram necessários 4,5% para um crescimento anual de 4,18%. Essa perda de eficiência também atingiu as outras matérias-primas minerais: enquanto entre 1950 e 1970 o PIB multiplicou-se por 2,6, o consumo de minérios e produtos minerais para a indústria multiplicou-se por 3,08, e o dos materiais de construção, por 2,94. Assim, a pegada ecológica humana global saltou do equivalente a 63% da capacidade bioprodutiva da Terra, em 1961, para mais de 100% no final dos anos 1970. Em outras palavras, desde essa época excedemos a capacidade de o planeta produzir os recursos de que precisamos e absorver os resíduos que deixamos.
A corrida armamentista, espacial, produtiva e consumista empreendida pelo bloco ocidental e pelo bloco oriental durante a Guerra Fria exigiu uma gigantesca exploração dos recursos naturais e humanos. Mas com uma diferença notável: o campo comunista explorava e degradava sobretudo seu próprio ambiente (comércio exterior de matérias-primas próximo do equilíbrio e inúmeros desastres ecológicos internos), ao passo que os países industrializados ocidentais construíram seu crescimento por meio de uma drenagem maciça dos recursos minerais e renováveis (com importações de matérias-primas ultrapassando as exportações em 299 bilhões de toneladas por ano em 1950 para mais de 1,282 trilhão de toneladas em 1970).13 Esses recursos provinham do resto do mundo não comunista, que se esvaziava de sua matéria e de sua energia de alta qualidade.
Essa drenagem foi economicamente desigual, com termos de troca dos países “em desenvolvimento”, exportadores de produtos primários, menores em quase menos 20% entre 1950 e 1972. Mas também foi ecologicamente desigual. Por volta de 1973, enquanto a China e a União Soviética atingiam uma pegada ecológica equivalente a 100% de sua biocapacidade nacional, a pegada norte-americana já era de 176%, a do Reino Unido, de 377%; a da França, de 141%; a da Alemanha Ocidental, de 292%; e a do Japão, de 576%, ao passo que muitos países da África, Ásia e América Latina continuavam em 50%.14
Entende-se que o motor da “grande aceleração” desse período foi o formidável endividamento ecológico dos países industrializados ocidentais, que venceram o sistema comunista e entraram em um modelo de desenvolvimento profundamente insustentável, enquanto suas emissões maciças de poluentes e gases do efeito estufa implicaram uma apropriação dos funcionamentos ecossistêmicos reparadores do resto do planeta. Tal apropriação criou um fosso entre as economias nacionais que geram muita riqueza sem submeter seu território a impactos excessivos e outras cuja economia pesa muito sobre seu território.
Hoje, a troca ecológica desigual continua entre, de um lado, os Estados e oligarquias que constituem os 5% mais ricos do planeta, procurando assentar seu poder econômico e sua paz social sobre emissões de gases do efeito estufa por pessoa significativamente acima da média mundial (ver gráfico), e, do outro lado, as regiões (insulares, tropicais e costeiras, principalmente) e populações (essencialmente as mais pobres) que serão as mais atingidas pelos distúrbios climáticos. Essas regiões e populações também são aquelas cujos ecossistemas – suas florestas – são os mais chamados a contribuir para atenuar as emissões excessivas de resíduos das regiões e populações ricas; e aquelas que, gratuitamente – uma dívida ecológica incomensuravelmente maior que as dívidas soberanas – ou por uma pequena remuneração, via mecanismos como o REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e outros mercados de bens e serviços ambientais, constituem uma nova forma de troca desigual.
Cabe à nossa geração e aos líderes mundiais romper com essa trajetória destrutiva e injusta. Trata-se, a longo prazo, de uma virada fundamental da geologia planetária e, a curto prazo, da vida e da segurança de centenas de milhões de homens e mulheres, das zonas costeiras ao Sahel, da Amazônia a Bangladesh. Que essa violência já afete gravemente as populações mais pobres e menos responsáveis pelas emissões do passado é um legado do Capitaloceno. Mas a opção de somar ou não a esse balanço dezenas de milhões de deportados climáticos, novas violências, sofrimentos e injustiças é nossa responsabilidade.
Qualquer movimento que retarde o congelamento de parte das reservas fósseis e qualquer emissão que conduza a superar o limite de mais 2 °C (ou mesmo mais 1,5 °C, segundo alguns climatologistas – ler artigo de Eric Martin, na p. 30) devem ser encarados como aquilo que são: atos que atentam contra a segurança de nosso planeta, com muitas vítimas e sofrimentos humanos em potencial.15 Embora as causalidades e os cálculos sejam complexos, já sabemos que a cada gigatonelada de CO2 emitida acima do “orçamento mais 2 °C” correspondem milhões de deslocados e vítimas extras. Como Condorcet ou o abade Raynal fizeram a respeito da escravidão, ousamos afirmar: essas emissões não controladas de gases do efeito estufa merecem ser chamadas de “crimes”.
Depois dos crimes da escravidão, do colonialismo e do totalitarismo, eis novamente ameaçada a ideia do valor intangível da vida humana. Disso decorre, como observa o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, outrora engajado na luta contra o apartheid, que reduzir nossa pegada de carbono não é uma simples necessidade ambiental, é “o maior campo de defesa dos direitos humanos”.16 Assim, é inaceitável que indivíduos e empresas enriqueçam por atividades climaticamente criminosas. Tutu exorta a combater as causas e os culpados do aquecimento global como se combateu o apartheid: pelas armas da reprovação moral, do boicote, da desobediência civil, do desinvestimento econômico e da repressão pela lei internacional.
ABOLIÇÃO DOS CRIMES CLIMÁTICOS
Há dois séculos, pedimos que os próprios líderes das colônias e territórios escravistas propusessem uma redução do número de escravos importados? Teríamos negociado com os traficantes negreiros quotas de escravos? Do mesmo modo, hoje, podemos ter esperança de avançar contando com o compromisso de Estados envolvidos em uma guerra econômica frenética ou confiando o futuro climático à mão invisível do mercado de carbono, pela monetização e privatização da atmosfera, do solo e das florestas?
Não deveríamos, em vez disso, procurar as forças da mudança na insurreição das vítimas do capitalismo fóssil (militantes antiextrativistas, refugiados climáticos...) e na indignação moral daqueles que, nos países ricos, não querem mais ser cúmplices e manifestam isso por várias ações – soluções para viver de outra forma e melhor com menos, campanhas para forçar os bancos a desinvestir em empresas climaticidas, pressão sobre os governos para que passem das palavras aos atos, em termos de redução das emissões,17 resistência aos grandes projetos desnecessários etc.?
Também é necessário um retorno da coragem política. Não há dúvida de que, se Bartolomé de las Casas, Condorcet, Jaurès, Gandhi ou Rosa Parks vivessem hoje, a abolição dos crimes climáticos, o desmantelamento dos noventa negreiros do carbono e a saída do Capitaloceno seriam sua grande luta.18
Antropoceno: o termo designa uma nova era na idade da Terra, aberta por uma humanidade que se tornou força telúrica.1 O ponto de partida dessa nova idade geo-histórica permanece controverso: a conquista etnocida da América? O nascimento do capitalismo industrial, baseado em combustíveis fósseis? A bomba atômica e a “grande aceleração” a partir de 1945? Mas há pelo menos um fato sobre o qual os cientistas concordam: muito mais que uma crise ambiental, vivemos uma revolução geológica, que só teve precedentes – a quinta extinção em massa, há 65 milhões de anos, ou o optimum climático do Mioceno, há 15 milhões de anos – em tempos anteriores ao aparecimento da humanidade. Daí uma situação radicalmente nova: a humanidade deverá, nas próximas décadas, enfrentar estados do sistema Terra com os quais nunca foi confrontada.
O Antropoceno também marca o fracasso de uma das promessas da modernidade, que pretendia separar-se da história da natureza, libertar o destino humano de qualquer determinismo natural. A esse respeito, os distúrbios causados à Terra representam uma tempestade em nossa vida. Eles remetem à realidade dos milhares de laços de pertencimento e retroações que ligam nossas sociedades aos processos complexos de um planeta que não é nem estável, nem externo a nós, nem infinito.2 Agredindo e jogando na estrada dezenas de milhões de refugiados (22 milhões hoje, 250 milhões anunciados pelas Nações Unidas em 2050), alimentando injustiças e tensões geopolíticas,3 as perturbações climáticas dificultam qualquer perspectiva de um mundo mais justo e solidário, de uma vida melhor para grande parte da humanidade. Desse modo, as frágeis conquistas da democracia e dos direitos humanos poderiam ser aniquiladas.
LÓGICA DE ACUMULAÇÃO
Afinal, quem é esse anthropos que originou o Antropoceno, verdadeiro descarrilamento da trajetória geológica da Terra? Uma “espécie humana” indiferenciada, unificada pela biologia e o carbono, portanto uniformemente responsável pela crise? Afirmar isso seria apagar a extrema diferença dos impactos, do poder e das responsabilidades entre povos, classes, gêneros. Houve vítimas e dissidentes da “antropocenização” da Terra, e talvez seja com eles que devamos aprender.
Na verdade, até recentemente o Antropoceno era um Ocidentaloceno! Em 1900, a América do Norte e a Europa ocidental haviam emitido mais de quatro quintos dos gases do efeito estufa desde 1750. A população humana cresceu dez vezes em três séculos, mas imagine a disparidade dos impactos entre os diferentes grupos humanos! Os povos de caçadores-coletores hoje ameaçados de desaparecer praticamente não podem ser considerados responsáveis por essa transformação. Um norte-americano abastado emite em sua vida mil vezes mais gases do efeito estufa que um africano pobre.4
Enquanto a população decuplicou, o capital centuplicou. Apesar das guerras destrutivas, ele cresceu 134 vezes entre 1700 e 2008.5 Não é essa lógica de acumulação que tensionou toda a dinâmica de transformação da Terra? Desse modo, mais justo seria chamar o Antropoceno de Capitaloceno. Essa é, aliás, a tese das recentes obras do sociólogo Jason Moore e do historiador Andreas Malm.6
Em dois séculos, um modelo de desenvolvimento industrial baseado em recursos fósseis conseguiu, ao mesmo tempo, desviar a trajetória geológica de nosso planeta e acentuar as desigualdades. Os 20% mais pobres detinham 4,7% da renda mundial em 1820, mas apenas 2,2% em 1992.7 Existe uma ligação entre a história das desigualdades e a história da degradação ambiental global do Antropoceno? Não, respondem os defensores do “capitalismo verde”, que retomam o velho discurso do “todos ganham” na relação entre mercado, crescimento, igualdade social e meio ambiente. No entanto, muitos trabalhos recentes, fazendo o cruzamento entre a história e as ciências do sistema Terra, evidenciam uma fonte comum para a dominação econômica e social, a injustiça ambiental e os desequilíbrios ambientais, que agora adquiriram amplitude geológica.
Embora qualquer atividade humana transforme o ambiente, os impactos são desigualmente distribuídos. Apenas noventa empresas são responsáveis por mais de 63% das emissões globais de gases do efeito estufa desde 1850.8 As nações que emitem mais são historicamente os países do “centro”, aqueles que dominam a economia-mundo (ver mapa). Primeiro foi o Reino Unido, que na era vitoriana, no século XIX, produzia metade do CO2 total e colonizava o mundo. Em seguida, em meados do século XX, foram os Estados Unidos, em concorrência frontal com os países sob influência soviética, cujo sistema não era menos destrutivo. Cada vez mais é a China, que hoje emite mais gases do efeito estufa que os Estados Unidos e a Europa juntos. O Império do Meio está em uma competição econômica com os norte-americanos que passa, a curto prazo, por uma corrida pelos recursos fósseis e, a médio prazo, pelo digital, as finanças e as tecnologias “verdes”. Diante dessa realidade histórica, podemos limitar os desequilíbrios globais sem questionar essa corrida pelo poder econômico e militar?
Mais profundamente, a conquista da hegemonia econômica pelos Estados-nação do centro9 permitiu a supremacia de sua elite capitalista, além da compra da paz social interna, graças à entrada das classes dominadas na sociedade de consumo. Mas isso se realizou à custa do endividamento ecológico, ou seja, de uma troca ecológica desigual com as outras regiões do mundo. Enquanto o conceito marxista de “comércio desigual” designa uma deterioração dos termos de troca entre periferia e centro, medida em quantidade de trabalho, entende-se por “troca ecológica desigual” a assimetria criada quando territórios periféricos ou dominados do sistema econômico global exportam produtos de alto valor de uso ecológico e recebem bens de menor valor, ou até mesmo geradores de danos (resíduos, gases do efeito estufa). Esse valor ecológico pode ser medido em hectares necessários para a produção de bens e serviços, por meio do indicador denominado “pegada ecológica”,10 em quantidade de energia de alta qualidade ou de matéria (biomassa, minerais, água etc.) incorporada nas trocas internacionais e ainda em resíduos e danos gerados e desigualmente distribuídos.
Esse modo de análise das trocas econômicas mundiais trouxe nos últimos anos uma nova perspectiva sobre o metabolismo de nossas sociedades e sobre a sucessão histórica tanto de “ecologias-mundo” (Jason Moore) como de “economias-mundo”, conforme a definição do historiador Fernand Braudel. Cada uma delas se caracteriza, de acordo com o período, por determinada organização (assimétrica) dos fluxos de matéria, energia e benefícios ou danos ambientais.
A FOME ENERGÉTICA DOS “TRINTA GLORIOSOS”
O historiador Kenneth Pomeranz mostrou o papel da troca ecológica desigual na entrada do Reino Unido na era industrial.11 A conquista da América e o controle do comércio triangular permitiu uma acumulação primitiva europeia; acumulação aproveitada principalmente pelos britânicos no século XVIII, graças à sua superioridade naval. Isso lhes deu acesso aos recursos do resto do mundo, indispensáveis para seu desenvolvimento industrial: mão de obra escrava para cultivar açúcar (4% do aporte energético de sua população em 1800), algodão para as manufaturas, lã, madeira, guano, trigo e carne. Em meados do século XIX, os hectares da periferia do império equivaliam a muito mais do que a superfície agrícola útil britânica. O câmbio era desigual, visto que, em 1850, trocando mil libras de têxteis fabricados em Manchester contra mil libras de algodão cru americano, o Reino Unido ganhava 46% em termos de trabalho incorporados (comércio desigual) e 6.000% em termos de hectares incorporados (troca ecologicamente desigual).12 Assim, ele liberava seu espaço doméstico de uma carga ambiental, e essa apropriação dos braços e dos ecossistemas da periferia tornou possível sua entrada na economia industrial.
Da mesma forma, no século XX, o forte crescimento dos chamados “Trinta Gloriosos Anos” do pós-guerra caracterizou-se por sua gula energética e sua pegada de carbono. Enquanto na primeira metade do século XX bastou um aumento de 1,7% por ano de consumo de energia fóssil para um crescimento mundial de 2,13% ao ano, entre 1945 e 1973 foram necessários 4,5% para um crescimento anual de 4,18%. Essa perda de eficiência também atingiu as outras matérias-primas minerais: enquanto entre 1950 e 1970 o PIB multiplicou-se por 2,6, o consumo de minérios e produtos minerais para a indústria multiplicou-se por 3,08, e o dos materiais de construção, por 2,94. Assim, a pegada ecológica humana global saltou do equivalente a 63% da capacidade bioprodutiva da Terra, em 1961, para mais de 100% no final dos anos 1970. Em outras palavras, desde essa época excedemos a capacidade de o planeta produzir os recursos de que precisamos e absorver os resíduos que deixamos.
A corrida armamentista, espacial, produtiva e consumista empreendida pelo bloco ocidental e pelo bloco oriental durante a Guerra Fria exigiu uma gigantesca exploração dos recursos naturais e humanos. Mas com uma diferença notável: o campo comunista explorava e degradava sobretudo seu próprio ambiente (comércio exterior de matérias-primas próximo do equilíbrio e inúmeros desastres ecológicos internos), ao passo que os países industrializados ocidentais construíram seu crescimento por meio de uma drenagem maciça dos recursos minerais e renováveis (com importações de matérias-primas ultrapassando as exportações em 299 bilhões de toneladas por ano em 1950 para mais de 1,282 trilhão de toneladas em 1970).13 Esses recursos provinham do resto do mundo não comunista, que se esvaziava de sua matéria e de sua energia de alta qualidade.
Essa drenagem foi economicamente desigual, com termos de troca dos países “em desenvolvimento”, exportadores de produtos primários, menores em quase menos 20% entre 1950 e 1972. Mas também foi ecologicamente desigual. Por volta de 1973, enquanto a China e a União Soviética atingiam uma pegada ecológica equivalente a 100% de sua biocapacidade nacional, a pegada norte-americana já era de 176%, a do Reino Unido, de 377%; a da França, de 141%; a da Alemanha Ocidental, de 292%; e a do Japão, de 576%, ao passo que muitos países da África, Ásia e América Latina continuavam em 50%.14
Entende-se que o motor da “grande aceleração” desse período foi o formidável endividamento ecológico dos países industrializados ocidentais, que venceram o sistema comunista e entraram em um modelo de desenvolvimento profundamente insustentável, enquanto suas emissões maciças de poluentes e gases do efeito estufa implicaram uma apropriação dos funcionamentos ecossistêmicos reparadores do resto do planeta. Tal apropriação criou um fosso entre as economias nacionais que geram muita riqueza sem submeter seu território a impactos excessivos e outras cuja economia pesa muito sobre seu território.
Hoje, a troca ecológica desigual continua entre, de um lado, os Estados e oligarquias que constituem os 5% mais ricos do planeta, procurando assentar seu poder econômico e sua paz social sobre emissões de gases do efeito estufa por pessoa significativamente acima da média mundial (ver gráfico), e, do outro lado, as regiões (insulares, tropicais e costeiras, principalmente) e populações (essencialmente as mais pobres) que serão as mais atingidas pelos distúrbios climáticos. Essas regiões e populações também são aquelas cujos ecossistemas – suas florestas – são os mais chamados a contribuir para atenuar as emissões excessivas de resíduos das regiões e populações ricas; e aquelas que, gratuitamente – uma dívida ecológica incomensuravelmente maior que as dívidas soberanas – ou por uma pequena remuneração, via mecanismos como o REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e outros mercados de bens e serviços ambientais, constituem uma nova forma de troca desigual.
Cabe à nossa geração e aos líderes mundiais romper com essa trajetória destrutiva e injusta. Trata-se, a longo prazo, de uma virada fundamental da geologia planetária e, a curto prazo, da vida e da segurança de centenas de milhões de homens e mulheres, das zonas costeiras ao Sahel, da Amazônia a Bangladesh. Que essa violência já afete gravemente as populações mais pobres e menos responsáveis pelas emissões do passado é um legado do Capitaloceno. Mas a opção de somar ou não a esse balanço dezenas de milhões de deportados climáticos, novas violências, sofrimentos e injustiças é nossa responsabilidade.
Qualquer movimento que retarde o congelamento de parte das reservas fósseis e qualquer emissão que conduza a superar o limite de mais 2 °C (ou mesmo mais 1,5 °C, segundo alguns climatologistas – ler artigo de Eric Martin, na p. 30) devem ser encarados como aquilo que são: atos que atentam contra a segurança de nosso planeta, com muitas vítimas e sofrimentos humanos em potencial.15 Embora as causalidades e os cálculos sejam complexos, já sabemos que a cada gigatonelada de CO2 emitida acima do “orçamento mais 2 °C” correspondem milhões de deslocados e vítimas extras. Como Condorcet ou o abade Raynal fizeram a respeito da escravidão, ousamos afirmar: essas emissões não controladas de gases do efeito estufa merecem ser chamadas de “crimes”.
Depois dos crimes da escravidão, do colonialismo e do totalitarismo, eis novamente ameaçada a ideia do valor intangível da vida humana. Disso decorre, como observa o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, outrora engajado na luta contra o apartheid, que reduzir nossa pegada de carbono não é uma simples necessidade ambiental, é “o maior campo de defesa dos direitos humanos”.16 Assim, é inaceitável que indivíduos e empresas enriqueçam por atividades climaticamente criminosas. Tutu exorta a combater as causas e os culpados do aquecimento global como se combateu o apartheid: pelas armas da reprovação moral, do boicote, da desobediência civil, do desinvestimento econômico e da repressão pela lei internacional.
ABOLIÇÃO DOS CRIMES CLIMÁTICOS
Há dois séculos, pedimos que os próprios líderes das colônias e territórios escravistas propusessem uma redução do número de escravos importados? Teríamos negociado com os traficantes negreiros quotas de escravos? Do mesmo modo, hoje, podemos ter esperança de avançar contando com o compromisso de Estados envolvidos em uma guerra econômica frenética ou confiando o futuro climático à mão invisível do mercado de carbono, pela monetização e privatização da atmosfera, do solo e das florestas?
Não deveríamos, em vez disso, procurar as forças da mudança na insurreição das vítimas do capitalismo fóssil (militantes antiextrativistas, refugiados climáticos...) e na indignação moral daqueles que, nos países ricos, não querem mais ser cúmplices e manifestam isso por várias ações – soluções para viver de outra forma e melhor com menos, campanhas para forçar os bancos a desinvestir em empresas climaticidas, pressão sobre os governos para que passem das palavras aos atos, em termos de redução das emissões,17 resistência aos grandes projetos desnecessários etc.?
Também é necessário um retorno da coragem política. Não há dúvida de que, se Bartolomé de las Casas, Condorcet, Jaurès, Gandhi ou Rosa Parks vivessem hoje, a abolição dos crimes climáticos, o desmantelamento dos noventa negreiros do carbono e a saída do Capitaloceno seriam sua grande luta.18
E as manifestações?
Apuraram pouco mais de 80 mil em todo o Brasil. Número pífio para quem tem uma suposta reprovação de 93% da população.
Apuraram pouco mais de 80 mil em todo o Brasil. Número pífio para quem tem uma suposta reprovação de 93% da população.
Só em São Paulo tinha umas 60 mil pessoas. Claro que não chegou aos pes da primeira vez, mas isso não representa que o povo esteja sastifeito, muito pelo contrário
qual manifestação?
o Anti Dilma Fashion Party convocado em comemoração aos 47 anos do AI-5?
o Anti Dilma Fashion Party convocado em comemoração aos 47 anos do AI-5?
Eu li que eram 30 mil em SP. Na verdade, que foi uma decepção, não tem o que negar, mas eu até acho que tem seus motivos... Embora eu não acompanhe os grupos que fazem divulgação dessas passeatas, acaba que sempre fico sabendo por compartilhamento de conhecidos. Dessa vez, não vi absolutamente nada. Acho que vi mais divulgação de sites anti-passeata, ironizando pelo fato de marcarem pro dia de aniversário do AI-5 do que de pessoas apoiando mesmo. Acho que realmente foi algo meio improvisado às pressas achando que a aceitação do início do processo de impeachment seria suficiente para mobilizar a sociedade e acabou sendo um tiro no pé. Não acredito em maior aceitação à presidente ou menos apoio ao impeachment, acho que foi soberba mesmo.
Por outro lado, nem gosto muito de comentar essas paradas porque ataca um pouco a legitimidade do ato, mas a primeira coisa que me causou certa estranheza foi ver fotos dessa manifestação em SP e notar um perfil muito claro (sem trocadilho) no público da passeata. Olhava e dava pra ver uma massa de pele mais clara, idade mais avançada, ou seja, um perfil bem específico da população. Ontem, estava passeando pelo Facebook e passei por uma pesquisa divulgada que acabou comprovando o que pensei:
link
A idade média desse público vem aumentado. Era de 39,6 anos em 15 de março, subiu para 45,2 em 12 de abril, 45,3 em agosto, chegou a 48,2 no domingo.
O grupo mais numeroso era o de assalariados registrados (30%), seguido de empresários (15%), autônomos e aposentados (13% cada).
O perfil de renda destoa do da população paulistana. Na cidade, 27% têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos; no ato, 44%.
Descompasso parecido ocorre com a escolaridade e a cor da pele. Na cidade, 28% têm ensino superior; na manifestação, 81%. No capital, os brancos são 48%; no protesto, 80%. Com os que se declaram pretos, ocorre o oposto: 14% na população, só 2% no protesto anti-Dilma.
O Datafolha perguntou em quem os manifestantes haviam votado no segundo turno da eleição presidencial. Só 3% citaram Dilma. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi mencionado por 84%.
O dado combina com a liderança do PSDB como partido preferido dos presentes, com 30% de citações. O recém-criado Novo, de viés liberal, ficou com 5%. DEM, PMDB, PSOL e PV foram mencionados por 1% cada. A maioria (55%) não tem preferência.
É grande o contingente de manifestantes que acredita no afastamento de Dilma (78%). Assim como os que entendem que ela deveria renunciar à Presidência (87%).
(edited)
Por outro lado, nem gosto muito de comentar essas paradas porque ataca um pouco a legitimidade do ato, mas a primeira coisa que me causou certa estranheza foi ver fotos dessa manifestação em SP e notar um perfil muito claro (sem trocadilho) no público da passeata. Olhava e dava pra ver uma massa de pele mais clara, idade mais avançada, ou seja, um perfil bem específico da população. Ontem, estava passeando pelo Facebook e passei por uma pesquisa divulgada que acabou comprovando o que pensei:
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A idade média desse público vem aumentado. Era de 39,6 anos em 15 de março, subiu para 45,2 em 12 de abril, 45,3 em agosto, chegou a 48,2 no domingo.
O grupo mais numeroso era o de assalariados registrados (30%), seguido de empresários (15%), autônomos e aposentados (13% cada).
O perfil de renda destoa do da população paulistana. Na cidade, 27% têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos; no ato, 44%.
Descompasso parecido ocorre com a escolaridade e a cor da pele. Na cidade, 28% têm ensino superior; na manifestação, 81%. No capital, os brancos são 48%; no protesto, 80%. Com os que se declaram pretos, ocorre o oposto: 14% na população, só 2% no protesto anti-Dilma.
O Datafolha perguntou em quem os manifestantes haviam votado no segundo turno da eleição presidencial. Só 3% citaram Dilma. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi mencionado por 84%.
O dado combina com a liderança do PSDB como partido preferido dos presentes, com 30% de citações. O recém-criado Novo, de viés liberal, ficou com 5%. DEM, PMDB, PSOL e PV foram mencionados por 1% cada. A maioria (55%) não tem preferência.
É grande o contingente de manifestantes que acredita no afastamento de Dilma (78%). Assim como os que entendem que ela deveria renunciar à Presidência (87%).
(edited)
a falta de manifestantes quer dizer que o povo não esta insatisfeito ?
Pedalada fiscal não é crime de responsabilidade ?
Pedalada fiscal não é crime de responsabilidade ?
O Brasileiro é modinha, na primeira manifestação foi apenas para tirar fotos para postar no face, etc.
concordo;
muita gente foi nas primeiras e nem sabe porque , nem sabe contra o que estava protestando.
muita gente foi nas primeiras e nem sabe porque , nem sabe contra o que estava protestando.
Hoje pela manhã deparei com uma situação bem engraçada. A população de SC é bem tradicional, ortodoxa, daquelas que prega que bandido bom é bandido morto, critíca os defensores dos direitos humanos pra preso, etc, etc, etc...
Acontece que 4 empresários foram presos aqui na minha cidade hoje por crime fiscal (8 meses de investigação e todas as provas que comprovam mais de 12 anos de irregularidades) e a GAECO levou todos algemados, vasculhou casa, escritório e os imóveis dessas pessoas em busca de mais provas e estava mantendo e tratando esses 4 empresários como criminosos que são.
A população, que odeia criminoso, ao invés de se revoltar com os 4 criminosos que além de explorarem a mão de obra da população roubavam o governo e o INSS (registrava um salário X na carteira e pagava X+y), está revoltada com a atitude da polícia em levar os 4 marginais algemados e revistarem os imóveis. Só por que essas 4 pessoas tem muito dinheiro e poder social a própria população acredita que devam ser tratados de maneira diferente de um 'criminoso qualquer'.
Quando eu perguntei pra um grupo de umas 15 pessoas se eles realmente haviam cometido crime fiscal e eles responderam que 'sim' eu imediatamente disse que eles eram criminosos, e não é que os 15 me corrigiram dizendo que eles eram 'pessoas de bem e que tão certos em roubar do governo, pq o governo rouba do sul pra sustentar o bolsa família'.
Resumo: o brasileiro é corrupto em sua essência e sempre encontra uma desculpa para justificar o ato.
Acontece que 4 empresários foram presos aqui na minha cidade hoje por crime fiscal (8 meses de investigação e todas as provas que comprovam mais de 12 anos de irregularidades) e a GAECO levou todos algemados, vasculhou casa, escritório e os imóveis dessas pessoas em busca de mais provas e estava mantendo e tratando esses 4 empresários como criminosos que são.
A população, que odeia criminoso, ao invés de se revoltar com os 4 criminosos que além de explorarem a mão de obra da população roubavam o governo e o INSS (registrava um salário X na carteira e pagava X+y), está revoltada com a atitude da polícia em levar os 4 marginais algemados e revistarem os imóveis. Só por que essas 4 pessoas tem muito dinheiro e poder social a própria população acredita que devam ser tratados de maneira diferente de um 'criminoso qualquer'.
Quando eu perguntei pra um grupo de umas 15 pessoas se eles realmente haviam cometido crime fiscal e eles responderam que 'sim' eu imediatamente disse que eles eram criminosos, e não é que os 15 me corrigiram dizendo que eles eram 'pessoas de bem e que tão certos em roubar do governo, pq o governo rouba do sul pra sustentar o bolsa família'.
Resumo: o brasileiro é corrupto em sua essência e sempre encontra uma desculpa para justificar o ato.
A essência do ser humano é complexa. Ainda mais quando o meio deturpa valores.
Para a galerinha do "impitmá":
Início do processo de impeachment amplia incertezas políticas, diz Fitch
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20151216/inicio-processo-impeachment-amplia-incertezas-politicas-diz-fitch/327014
Início do processo de impeachment amplia incertezas políticas, diz Fitch
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/economia/20151216/inicio-processo-impeachment-amplia-incertezas-politicas-diz-fitch/327014
Para a galerinha do "impitmá":
Só pra não perder a alfinetada, quem deve falar assim é quem é contra o "impitmá" , já que acusam o pessoal que quer o impitmá de serem a elite, esclarecida com ensino superior, branca e bla bla bla,
;)
==============
Início do processo de impeachment amplia incertezas políticas, diz Fitch
Isso é mais que obvio, todos sabem que derrubar um presidente seja por motivos legais ou não causa instabilidade, agora se vai ser melhor ou não, ai eu já não sei, quem sabe seja realmente nescessário quebrar uns ovos pra se fazer um omelete.
Só pra não perder a alfinetada, quem deve falar assim é quem é contra o "impitmá" , já que acusam o pessoal que quer o impitmá de serem a elite, esclarecida com ensino superior, branca e bla bla bla,
;)
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Início do processo de impeachment amplia incertezas políticas, diz Fitch
Isso é mais que obvio, todos sabem que derrubar um presidente seja por motivos legais ou não causa instabilidade, agora se vai ser melhor ou não, ai eu já não sei, quem sabe seja realmente nescessário quebrar uns ovos pra se fazer um omelete.
Vi alguém falando aí atrás que esse impeachment é um "golpe". Não consigo conceber como podem pensar isso. Claro, quando digo isso não é aplicado ao grupo petista ligado a marketing que adota a estratégia de atacar aquilo que não lhe é favorável, ou pelo menos desconstruir uma ideia que lhe é negativa - mas imagino que ninguém do sokker tem essa ligação direta com o PT, por isso que mencionei que não entendo como alguém daqui pode conceber isso.
O impeachment nada mais é do que o processo instaurado para apurar se o Presidente da República, o Governador, o Prefeito e outras tantas autoridades praticaram crime de responsabilidade. Quanto ao Presidente da República, esse processo tem previsão no art. 85 da Constituição e na Lei nº 1.079/50. É um processo democrático de apuração de crimes de responsabilidade. Aliás, tão democrático que qualquer cidadão no pleno gozo de seus direitos políticos pode pedir o impeachment da Presidente da República, nos termos do art. 14 da Lei nº 1.079/50: "Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República (...) por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados".
A partir de qualquer tipo de denúncia, com aparante fundamento, o presidente da Câmara dos Deputados faz um juízo prévio de admissibilidade da denúncia. Se ele entende que há fundamento, ele aceita a denúncia e aí se forma uma comissão para analisar o pedido. Somente da decisão dessa comissão, formada por vários deputados (dois terços da Câmara, segundo a CF), é que se decide se será instaurado o processo de impeachment, a ser decidido pelo Senado (juízo político). E agora com a recente decisão do STF, antes do Senado fazer um juízo político sobre a ocorrência de crime de responsabilidade, ele ainda faz uma decisão se realmente deve ou não ser instaurado o processo de impeachment, mesmo tendo a Câmara decidio pela instauração do processo.
Ou seja, falei isso tudo pra mostrar que é um processo que pode ser iniciado até por uma pessoa qualquer do povo, que passa por um juízo de admissibilidade do presidente da Câmara (que, em tese, é uma pessoa que deveria ser capacitada pra estar lá), que depois passa por uma decisão colegiada por uma comissão da câmara, que depois passa por uma decisão colegiada do Senado (agora, primeiro de admissibilidade da instauração do impeachment, e se instaurada aí sim de decisão de mérito), e presidida pelo presidente do STF, para garantir a observância da legalidade em todo o processo. Se, após tudo isso, decidir-se pela ocorrência de crime de responsabilidade e consequência perda do cargo, então esse foi o resultado obtido mediante os instrumentos democráticos que estão à disposição para apuração dos crimes de responsabilidade.
Essa é a legislação em vigor. E as pessoas que votam nessa tão importante decisão são pessoas escolhidas democraticamente pelo povo, para compor a Câmara e o Senado. É óbvio que não dá pra fechar os olhos e saber que o Eduardo Cunha aceitou o pedido por motivos escusos à legalidade. Mas se ainda assim a Câmara decidir pela instauração do impeachment, o Senado mantiver essa decisão de instauração e depois decidir pelo reconhecimento de crime de responsabilidade (ou seja, a decisão final seria fruto da atuação de inúmeros agentes políticos escolhidos pelo povo), então esse foi o resultado democrático por meio dos instrumentos legais que vigoram essa matéria no nosso país. Nem de longe caberia se falar em golpe...
E não escrevi nada disso pra justificar o atual processo de impeachment. Eu, particularmente, acho que o impeachment, no momento atual, é muito nocivo ao país, gera muita instabilidade e com graves reflexos na economia (que já vem péssima e deve piorar com o novo Ministro da Fazenda). Logo, embora eu também não seja apreciador da gestão da Dilma, acho que, para o país, teria sido bom se o Cunha nunca tivesse feito juízo de admissibilidade favorável à propositura da instauração do processo de impeachment. Mas acho sem noção quando reproduzem o discurso, de origem marketeira, de que isso é uma tentativa de "golpe" e que se a presidente for destituída do cargo, por condenação de crime de responsabilidade, após todas as garantias previstas no processo de impeachment, isso seria fruto de "golpe".
Enfim, não vim pra criticar ou defender a Dilma ou o PT (destaco isso porque a maioria dos debates aqui acabam indo pra esse lado), mas somente pra externar minha posição sobre esse papo mequetrefe de golpe.
O impeachment nada mais é do que o processo instaurado para apurar se o Presidente da República, o Governador, o Prefeito e outras tantas autoridades praticaram crime de responsabilidade. Quanto ao Presidente da República, esse processo tem previsão no art. 85 da Constituição e na Lei nº 1.079/50. É um processo democrático de apuração de crimes de responsabilidade. Aliás, tão democrático que qualquer cidadão no pleno gozo de seus direitos políticos pode pedir o impeachment da Presidente da República, nos termos do art. 14 da Lei nº 1.079/50: "Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República (...) por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados".
A partir de qualquer tipo de denúncia, com aparante fundamento, o presidente da Câmara dos Deputados faz um juízo prévio de admissibilidade da denúncia. Se ele entende que há fundamento, ele aceita a denúncia e aí se forma uma comissão para analisar o pedido. Somente da decisão dessa comissão, formada por vários deputados (dois terços da Câmara, segundo a CF), é que se decide se será instaurado o processo de impeachment, a ser decidido pelo Senado (juízo político). E agora com a recente decisão do STF, antes do Senado fazer um juízo político sobre a ocorrência de crime de responsabilidade, ele ainda faz uma decisão se realmente deve ou não ser instaurado o processo de impeachment, mesmo tendo a Câmara decidio pela instauração do processo.
Ou seja, falei isso tudo pra mostrar que é um processo que pode ser iniciado até por uma pessoa qualquer do povo, que passa por um juízo de admissibilidade do presidente da Câmara (que, em tese, é uma pessoa que deveria ser capacitada pra estar lá), que depois passa por uma decisão colegiada por uma comissão da câmara, que depois passa por uma decisão colegiada do Senado (agora, primeiro de admissibilidade da instauração do impeachment, e se instaurada aí sim de decisão de mérito), e presidida pelo presidente do STF, para garantir a observância da legalidade em todo o processo. Se, após tudo isso, decidir-se pela ocorrência de crime de responsabilidade e consequência perda do cargo, então esse foi o resultado obtido mediante os instrumentos democráticos que estão à disposição para apuração dos crimes de responsabilidade.
Essa é a legislação em vigor. E as pessoas que votam nessa tão importante decisão são pessoas escolhidas democraticamente pelo povo, para compor a Câmara e o Senado. É óbvio que não dá pra fechar os olhos e saber que o Eduardo Cunha aceitou o pedido por motivos escusos à legalidade. Mas se ainda assim a Câmara decidir pela instauração do impeachment, o Senado mantiver essa decisão de instauração e depois decidir pelo reconhecimento de crime de responsabilidade (ou seja, a decisão final seria fruto da atuação de inúmeros agentes políticos escolhidos pelo povo), então esse foi o resultado democrático por meio dos instrumentos legais que vigoram essa matéria no nosso país. Nem de longe caberia se falar em golpe...
E não escrevi nada disso pra justificar o atual processo de impeachment. Eu, particularmente, acho que o impeachment, no momento atual, é muito nocivo ao país, gera muita instabilidade e com graves reflexos na economia (que já vem péssima e deve piorar com o novo Ministro da Fazenda). Logo, embora eu também não seja apreciador da gestão da Dilma, acho que, para o país, teria sido bom se o Cunha nunca tivesse feito juízo de admissibilidade favorável à propositura da instauração do processo de impeachment. Mas acho sem noção quando reproduzem o discurso, de origem marketeira, de que isso é uma tentativa de "golpe" e que se a presidente for destituída do cargo, por condenação de crime de responsabilidade, após todas as garantias previstas no processo de impeachment, isso seria fruto de "golpe".
Enfim, não vim pra criticar ou defender a Dilma ou o PT (destaco isso porque a maioria dos debates aqui acabam indo pra esse lado), mas somente pra externar minha posição sobre esse papo mequetrefe de golpe.
Na epoca do Collor, foi o PT q iniciou tudo aquilo e depois no governo FHC, ja divulgaram q o PT protocolou pelo menos 13 pedidos de impeachment, ou seja, so é golpe quando é contra o PT!!
bruno, legal ler suas conclusões, uma opinião embasada e ponderada. é bom ler textos de quem sabe escrever e argumentar, mesmo que eu não concorde inteiramente com as opiniões expressas.
mas o "golpe" não é o impeachment... é o que estão fazendo desde o final das eleições.
um eterno terceiro turno que, inclusive, já atingiu os objetivos de pautar o governo da Dilma.
e essa é uma das diferenças em relação ao caso do Collor.
o Collor assumiu com grande apoio da imprensa, ao invés de ser bombardeado desde o início do governo.
outras diferenças:
o Collor passou por um amplo processo de investigação e o processo de impeachment só foi iniciado DEPOIS de uma longa CPI em que sobraram provas de corrupção contra ele.
e há mais uma grande diferença, se não no mérito, pelo menos na possibilidade de conclusão do processo: como o Collor foi eleito presidente sem qualquer real base popular de apoio (basicamente, foi o candidato da Globo, fabricado em um Globo Repórter - "O caçador de marajás" e alimentado diariamente pelas notícias favoráveis). já a Dilma, ainda conta com um aguerrido apoio popular. qual a importância disso? só uma... pode dar treta!
no caso do Collor, passou longe de golpe.
talvez os pedidos do PT de abertura de impeachment de Itamar e FHC se aproximem mais disso... mas foram apenas pedidos, analisados e negados pelo Congresso. como você, Bruno, escreveu: "é um processo que pode ser iniciado até por uma pessoa qualquer do povo"
então, nesse caso, golpistas de um lado e golpistas do outro. a questão passa a ser observar quem aplaude o atual processo dizendo "ah, se lá foi golpe, então agora também pode", que, por si só , é um argumento burro e tacanho, já que a pessoa admite que isso é um golpe, parte do princípio que é algo errado e conclui que, mesmo errado, é bom pois é contra "os inimigos".
enfim, vale mais uma colocação:
o impeachment do Collor não foi "do PT"!
quer ver quem mais votou a favor da abertura do processo na Câmara?
Aécio Neves
Jair Bolsonaro
José Serra
Robson Tuma
dentre outros.
mas o "golpe" não é o impeachment... é o que estão fazendo desde o final das eleições.
um eterno terceiro turno que, inclusive, já atingiu os objetivos de pautar o governo da Dilma.
e essa é uma das diferenças em relação ao caso do Collor.
o Collor assumiu com grande apoio da imprensa, ao invés de ser bombardeado desde o início do governo.
outras diferenças:
o Collor passou por um amplo processo de investigação e o processo de impeachment só foi iniciado DEPOIS de uma longa CPI em que sobraram provas de corrupção contra ele.
e há mais uma grande diferença, se não no mérito, pelo menos na possibilidade de conclusão do processo: como o Collor foi eleito presidente sem qualquer real base popular de apoio (basicamente, foi o candidato da Globo, fabricado em um Globo Repórter - "O caçador de marajás" e alimentado diariamente pelas notícias favoráveis). já a Dilma, ainda conta com um aguerrido apoio popular. qual a importância disso? só uma... pode dar treta!
no caso do Collor, passou longe de golpe.
talvez os pedidos do PT de abertura de impeachment de Itamar e FHC se aproximem mais disso... mas foram apenas pedidos, analisados e negados pelo Congresso. como você, Bruno, escreveu: "é um processo que pode ser iniciado até por uma pessoa qualquer do povo"
então, nesse caso, golpistas de um lado e golpistas do outro. a questão passa a ser observar quem aplaude o atual processo dizendo "ah, se lá foi golpe, então agora também pode", que, por si só , é um argumento burro e tacanho, já que a pessoa admite que isso é um golpe, parte do princípio que é algo errado e conclui que, mesmo errado, é bom pois é contra "os inimigos".
enfim, vale mais uma colocação:
o impeachment do Collor não foi "do PT"!
quer ver quem mais votou a favor da abertura do processo na Câmara?
Aécio Neves
Jair Bolsonaro
José Serra
Robson Tuma
dentre outros.